Introdução
Nossa expedição de caiaque em casal de Iguape à Cananéia em janeiro de 2022 foi uma aventura mágica e transformadora. A descoberta das nuances ao longo do percurso despertou em nós emoções sutis que aguçaram o olhar um para o outro, aumentando ainda mais a nossa admiração.
Somos um casal que rema juntos, mas iniciamos em momentos diferentes. Eu Sérgio, iniciei as primeiras remadas no caiaque em 1983 e a Fabi no rafting em 1996. Nossas vidas se cruzaram em 2005, quando ela conheceu Iguape comigo, mas foi a partir de 2020 que nos tornamos dupla, nos aventurando juntos.
A ideia inicial foi de reproduzir os caminhos que realizava (na década de 80) junto com meu amigo Mário, quando “fugia” do carnaval de Iguape (um dos melhores de rua para quem gosta!) e seguia remando até a Vila Caiçara do Marujá, na ponta Sul da Ilha do Cardoso. Agora, era o início, só até Cananéia, cumprir 56Km em dois dias, e se possível, encantá-la.
Preparativos e Início da Remada: Uma Aventura em Casal
Acordamos às 5h15 da manhã, mas após um café da manhã reforçado, havia os preparativos e organização dos equipamentos: Pegar uma estradinha até a Toca do Bugio, colocar o caiaque na água, carregá-lo com nossa bagagem, estacionar o carro em local seguro para só então iniciarmos a remada às 8h30.
Perdemos o horário do final da maré enchente, que seria favorável nesse trecho, e com a maré contra, a remada se tornou um pouco mais difícil, mas como na vida, encaramos as dificuldades de frente!
Escolhemos uma rampa no bairro da Toca do Bugio para iniciar a remada, que dista 5 quilômetros até Iguape, para em seguida alinhar a proa para Cananéia.
Encontro com uma Amiga e A Beleza da Natureza
Às 9h33, após passarmos pelo Canal do Mercado com a vista da Basílica imponente no Centro Histórico (o maior acervo arquitetônico colonial do Estado de São Paulo) chegamos ao antigo porto da balsa e tivemos uma grata surpresa: nossa querida Ciça estava lá para nos desejar boa viagem! Após uma foto e troca de sorrisos, nos despedimos e seguimos rumo ao sul. Estes primeiros quilômetros consumiram 1 hora de remada, enfrentando a maré vazante, contrária neste trecho ao nosso deslocamento.
Conforme nos distanciávamos da cidade, os poucos barcos de pesca desapareceram, já que estávamos na época do defeso (fica proibida a pesca profissional, com redes, para proteger a época da desova e garantir a reprodução das espécies migratórias, principalmente a Manjuba). O silêncio dominou a paisagem, sendo interrompido apenas pelos cantos dos pássaros, o vento nas folhagens e o bater ritmado dos remos na água.
Nossas mentes desaceleraram, e o relógio sem pressa, apenas nos ajudava a organizar hidratação e alimentação.
Desafios e Superação na Expedição de Caiaque em Casal
Após 2 horas e meia de remada, paramos para descansar, esticar as pernas e lanchar. Neste trecho inicial, de Iguape até a Ilha Grande, tivemos dificuldade para achar um ponto para desembarcar, os aguapés (plantas flutuantes) em grande quantidade restringiam o acesso, mas felizmente encontramos um píer que conseguimos subir. Renovados, retomamos a jornada, com a maré ainda contra e o vento mais forte de sudeste, também oferecendo resistência em alguns momentos, o que exigiu ainda mais esforço.
Ficamos impressionados com a capacidade de carga do Marajó SuperTour. Mesmo pesado, sua linha d’água permitiu um deslocamento seguro, confortável e dinâmico, confirmando seu DNA para expedição (Era a nossa primeira viagem em um Marajó).
Almoço, Descanso e Reflexões
Às 12h40, paramos para almoçar. Saboreamos um lanche delicioso preparado pela Fabi na véspera ( gostamos muito de um “misto salada”, rsrs, pão integral, queijo, presunto, alface e tomate). Após o almoço, a Fabi relaxou e acabou adormecendo durante a remada. Segui em silêncio por alguns minutos, admirando a paisagem, até que não resisti e a acordei para seguirmos viagem, bem melhor dois remando juntos!
Ultrapassada a região do Subaúma, onde há uma sinalização (farol) sobre um conjunto de pedras, pegamos maré favorável, pois este ponto é o meio do Lagamar, e a vazante passa a correr no sentido de Cananéia, isto é, continua vazando, mas à partir desse ponto, a maré começou a ajudar.
A Procura por um Local Seguro para Acampar
Remamos por mais duas horas sem avistar ninguém. Já estava na hora de começar a procurar um local para acampar, já que estávamos no meio do caminho. No entanto, em todos os pontos bons que encontrávamos, havia algum barco próximo, o que me deixou inseguro. Estar ali, sozinho com a esposa, nos deixava muito vulneráveis à qualquer visita inoportuna de “bípedes”, o bicho mais perigoso deste planeta. Seguimos atentos às margens.
Após pedirmos um cantinho para montar a barraca em um pequeno sítio e recebermos uma resposta negativa, voltamos para o caiaque (apesar dos caiçaras serem muito receptivos, eles também se resguardam, não gostando de “forasteiros” inesperados). Mais à frente, encontramos um barranco branco, local perfeito para a barraca com uma areia branquinha e uma vista alta e privilegiada, mas haviam três homens pescando, e a energia deles não agradou, então decidimos remar por mais um tempo, mesmo sabendo que já estávamos acima da cota pretendida para o dia.
A Chegada em Vila de Pedrinhas
Após 8h10 corridas e 40 km percorridos, finalmente chegamos à Vila de Pedrinhas! Fiquei surpreso ao ver a Fabi inteira fisicamente e com o humor inabalável, curtindo cada momento da expedição. A luz do entardecer alaranjando os reflexos nas águas completou a mágica do momento.
Os pescadores da vila, nos cederam um local para montarmos acampamento e, ali, sentimos que poderíamos dormir despreocupados, protegidos.
Acampamento e Descanso
Esvaziamos o caiaque, retiramos ele da água e montamos o acampamento. As cadeirinhas, que foram uma das melhores dicas que recebemos, proporcionaram mais um descanso confortável e com apoio lombar, “eita” poltrona boa! Rsrs
Após alguns ataques de mutucas e mosquitos, jantamos e fomos dormir. A Fabi logo pegou no sono, mas tive dificuldades, primeiro com o calor, pois nossa barraca de montanhismo não ventilava bem e o calor me judiou (escolha barracas bem ventiladas para o verão! rsrs). Além disso, um carro próximo de onde estávamos tocou Funk boa parte da madrugada, um problema brasileiro bem atual…
A Retomada da Remada e o Encontro com Golfinhos
No dia seguinte, acordamos um pouco mais tarde e retomamos a remada às 9h. Desta vez, a corrente da maré estava a nosso favor, porque nesse horário já estava vazando, o que ajudou bastante na progressão do caiaque.
Após avistarmos alguns golfinhos e tartarugas, em 3 horas de remada percorremos 16 km sem fazer força, e chegamos à um bairro de Cananéia, Agrossolar, faltando ainda 5 quilômetros até o centro da cidade. Neste ponto fizemos uma parada para visitar primos queridos.
Acolhimento e Decisão de Encerrar a Expedição de Caiaque em Casal
A recepção foi tão acolhedora que decidimos encerrar a expedição ali. A ideia foi bem recebida por mim, já que a continuação da expedição, em um próximo momento, o trajeto de Cananéia até Ariri, poderia ser iniciada ali na casa deles, sem “roubar” nenhum centímetro do percurso. A Fabi com o desejo de “– Quero mais!”, reafirmou o plano de reproduzir os meus “retiros” do passado. Emocionante!
Comemoramos a conclusão da primeira parte da expedição e, em seguida, retornamos para Iguape de carro. Calma, não podia forçar, a primeira impressão é a que fica! Rsrs.
A Praticidade do Marajó Bi-Partido
No transporte de volta para Iguape, o Marajó bi-partido mostrou sua praticidade, já que dividimos seus 6,70 metros em dois e o rack de teto comportou tudo perfeitamente.
A Volta para Iguape e a Gratidão pela Boa Escolha
Chegando em Iguape, uma chuva muito forte confirmou que tivemos muita sorte em escolher os únicos dois dias sem chuva intensa naquele verão chuvoso no sudeste.
No dia seguinte, “the day after” foi de muita arrumação, limpeza e guarda do caiaque, já sonhando e planejando o próximo trecho, a continuação até o Marujá na Ilha do Cardoso.
Conclusão
A expedição de Iguape a Cananéia foi uma experiência inesquecível que nos proporcionou momentos mágicos e transformadores. Superamos desafios, celebramos conquistas e fortalecemos ainda mais a nossa união. Que venham as próximas aventuras em dupla.